segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Depois da ressaca de idéias...

Antítese

Durante o dia procuro a verdade
Com experiências e repetições
Seguindo um protocolo.
Denominam-me pesquisador

Quando sai o dia
e a noite cai
Da verdade procuro me esconder
Sou tomado pela ilusão do artista

..Não tenho preferência por nenhum..

Mas se um dia, por distração minha
o pesquisador encontrar a verdade

ou

o artista não mais iludir a realidade.

..Terei realmente chegado ao fim....

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O pastor de Ovelhas

Em todas as sociedades, em algum momento, a casta dos sacerdotes e a dos guerreiros se confrontam ciumentamente, e não entram em acordo quanto as suas estimativas. Os valores dos guerreiros têm como pressuposto uma constituição física poderosa, uma saúde florescente, rica, juntamente com aquilo que serve a sua conservação: guerra, aventura, caça, dança e tudo que envolve uma atividade robusta, livre e contente.

Já os valores sacerdotais têm outros pressupostos: para ele a guerra é mau negocio! Os sacerdotes são, como sabemos, os mais terríveis inimigos, por quê? Por que são os mais impotentes. Na sua impotência, o ódio toma proporções monstruosas, torna-se a coisa mais espiritual e venenosa que existe. Mantendo hábitos hostis à ação, em parte meditabundos, em parte explosivos sentimentalmente, cujas sequelas parecem ser debilidade intestinal e a neurastenia quase que fatalmente inerentes aos sacerdotes de todos os tempos!!

Mas o que foi inventado por eles mesmos como remédio para essa debilidade? A própria humanidade sofre ainda dessa “cura” sacerdotal!! Lembremos, por exemplo, o jejum, a continência sexual, junte-se a isso, a metafísica anti-sensualista dos sacerdotes, apta a fabricar indolentes e refinados, a sua auto-hipnose(leia-se oração) e por fim o muito compreensível enfado geral com sua cura radical- o nada- ou deus como queiram!!!

Com os sacerdotes, tudo se torna mais perigoso, não apenas meios de cura, mas também altivez, vingança, perspicácia, dissolução, amor, sede de domínio, virtude, doença, a partir disso, a alma humana foi “criada” pelos valores sacerdotais e pior que criada, tornou-se má. E é esta a única forma fundamental da superioridade até agora tida pelo homem sobre as outras bestas....

A Ovelha em si

Como transformar uma ave de rapina, que faz do seu instinto de liberdade, sua fonte de prazer, um animal de rebanho? Inibindo-o, amansando-o, afastando-o da “vida selvagem” a propagada “doutrina da paz”. Esse animal, que podemos chamar também de homem. Esse mesmo homem que, por falta de inimigos, e resistências exteriores, cerrado numa opressiva estreiteza e regularidade de costumes, impacientemente lacerou, perseguiu, corroeu, maltratou a si mesmo, esse animal que querem “amansar”, que se fere nas barras da própria jaula, este ser carente, consumido pela nostalgia do ermo, que a si mesmo teve de converter em aventura, câmara de tortura, insegura e perigosa mata, esse tolo, esse prisioneiro presa da ância e do desespero tornou-se o inventor da “má-consciência”.

Vejo a má-consciência como a profunda doença que o homem teve de contrair sob a pressão da mais radical das mudanças que viveu – a mudança que sobreveio quando ele se viu definitivamente encerrado no âmbito da sociedade e da paz. O mesmo que deve ter se sucedido aos animais aquáticos, quando foram obrigados a tornarem-se animais terrestres ou perecer. A partir de então deveriam andar com os pés, e carregar a si mesmos, quando antes eram levados pelas águas. Subitamente seus instintos ficaram sem valor, para as funções mais simples, sentiam-se canhestros, nesse novo mundo não mais possuíam os seus velhos guias, os impulsos reguladores, e incoscientemente certeiros. Estavam reduzidos, os infelizes, a pensar, inferir, calcular, combinar causas e efeitos, reduzidos a sua consciência, ao seu órgão mais frágil e falível!

Acontece que os “velhos instintos” não cessaram repentinamente de fazer suas exigências! Mas era difícil, raramente possível, lhes dar satisfação: tiveram de buscar gratificações novas e digamos subterrâneas. Todos os instintos, que não se descarregam para fora, voltam-se para dentro, é a interiorização do homem, é assim que no homem cresce o que depois se denomina alma.

Todo o mundo interior, originalmente delgado, como que entre duas membranas, foi se expandindo e se estendendo, adquirindo profundidade, largura e altura, na medida em que o homem foi inibido em sua descarga para fora. O mundo que era antes exterior, teve de ser comprimido dentro do homem, e que a meu ver não teria como suportar...

Perpetuando a Espécie

Consideremos com que regularidade, com que universalidade, como em quase todos os tempos aparece o sacerdote (ou feiticeiro, ou adivinho, ou homem religioso como preferirem). Ele não pertence a nenhuma raça determinada; floresce em toda parte, brota em todas as classes. Não que ele cultive e propague seu modo de valoração através de heranças: ocorre justamente o contrario, em geral, um profundo instinto lhe proíbe a procriação - veneram a castidade -. Deve ser uma necessidade de primeira ordem, a que faz crescer e medrar essa espécie hostil a vida, essa espécie contraditória que ao pregar a castidade, está pregando a não-vida!!!

O “ideal de vida proposto pelos sacerdotes” (alguns já expostos em posts anteriores) é em si uma contradição. Aqui domina um ressentimento ímpar, busca-se satisfação no malogro, na desventura, no fenecimento, no feio, na perda voluntaria, na negação de si, autoflagelação e auto-sacrifício.

Os sacerdotes tratam a vida como um erro, ou melhor, uma “preparação” para a outra vida. A “imposição” desta concepção errônea da vida tem uma explicação evidente. Eles (os sacerdotes) têm nesse ideal, não apenas sua fé, mas também sua vontade, seu poder, seu interesse, seu direito a existência. Sua existência social se sustenta ou cai com esse ideal.

Mas para de alguma maneira poder existir, ele tinha de crer nele, para então poder representá-lo. Onde foi buscar inspiração essa antinatureza, essa contradição sacerdotal? Naquilo que é experimentado de modo mais seguro como verdadeiro, como real: apontará o erro precisamente ali onde o autêntico instinto de vida situa incondicionalmente a verdade. Rebaixando o corpo a uma ilusão, assim como a dor, a multiplicidade, toda oposição conceitual de “sujeito” e “objeto” – erros, nada senão erros!!!Recusar a crença em seu EU, negar a si mesmo sua realidade. Em nome do Paraíso...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sobre nós Mesmos


Sinceridade


O momento em que escrevo
é o tempo no qual
sou mais sincero
comigo mesmo.

Lendo e relendo
lembro de cada palavra,
e dos meus sentimentos
contidos naqueles versos.

Aglutinados ou justapostos
pouco importa
sou eu exposto...

O poeta peca por ser sincero,
a qualquer desconhecido.


Sobre a Escrita


Sou um escritor de profundezas
que sorrateiramente
escava por entre palavras.

..O que é superficial não me interessa..

Escrevo sem pressa,
uma escrita franca e honesta
sem verdades absolutas
ou idéias ocultas.

Procuro ser entendido
e por pretensão sentido.

Por isso vou profundo
tecendo pensamentos
entretendo o leitor.
Intrigando-o.

Prefiro transmitir idéias duras
mas que perdurem
e de preferência perturbem

..Meus inestimáveis
interlocutores..

Gêneses

Em algum momento,
O ser humano se percebeu racional.

Passando a acreditar em sua razão.
Pensando ter sempre razão.
Divorciou-se da Paixão.

Com a razão em mãos.
Procurou sua origem
e criação.

Como se estivesse aí
a resposta de suas indagações,
a explicação de suas emoções.

De certo
só se ouviu o silêncio.

Criou-se então
O mito da criação
Fazendo entre o Humano
e o Divino a ligação.
- Que presunção...

A razão descobre a perfeição
e tudo não passou de uma invenção.

Humano demais

A competição nos corroeu,
ainda corrói, nos deforma
e como dói essa forma.

Forjada em forma rasa
estreita,
que não respeita
nem aceita
seu conteúdo.

Uma degradação
não só do Ambiente
mas do Homem
principalmente.

Do Humano.
Mas o que é ser Humano?
ou melhor
O que nos torna Humano?

A Lógica e a Razão
alguns dirão.

Eu vou além
na minha concepção
acima dessas virtudes
estão o Afeto e a Cooperação.

Pode ser que esteja enganado
mas olhando bem ao redor
eu sinceramente
penso que não.

Tempo e Espaço


Por vezes sinto que devo
me esconder para espairecer.
Não vejo como uma fuga
e nem como uma desculpa.

Na Realidade, não culpo o presente
o tempo e espaço nós matamos.
Para vivermos da velocidade onipresente,
as pressas, o eterno e o absoluto criamos.

Confesso que controverso eu encaro
mas esse preço, ao que parece,
está ficando demasiado caro.

Agora me falta tempo
até mesmo para um mero soluço
ou um simples aperto de mão.

Inventou-se a emoção comprimida
ao peito espremida.

No coração
sobra espaço
sinto falta de contar os passos
cada dia mais escassos.

Realmente não sei o que faço
se fujo ou acato
ser dobrado e amassado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Prazer

...sexo, suor, cigarros...
meus vícios,
indícios de prazer.

Meus afazeres
a muito deixei de fazer.
Das muitas obrigações
só restou-me uma:
- A escrita.

Esta que anda aflita
impávida
pela vida é ávida.

Deseja desafios
por mais que
eu fique
horas a fio.
No fio da navalha
mas que me valha.

Não a pena, e sim o prazer.
Por pensar, conceber e escrever!!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Fôlego ou Carta aos Amigos

Ando tão ausente
me distraindo facilmente
tudo parece perder a importância
quando relembro a infância

O futebol no portão
Os amigos da vizinhança
As lembranças do passado
Considero-as um presente

Vamos nos reencontrar ainda
em algum bar de esquina?
Nem que seja
para uma simples cerveja?

sinto saudades das conversas
mesmo que sobre coisas banais
receio ainda ficar sem assunto

e então estórias
iremos lembrar
alguns planos
e outros tantos enganos

sei amigos
que ando mesmo ausente
por enquanto sigo em frente

e quando de fôlego
estiver precisando
mais uma vez
me lembro de vocês..

Desculpa

Achava-se culpado
Não sabia bem o por quê...

Antes de dormir fazia as orações
Cumpria suas obrigações
e também as devoções

Tinha dias que nem a percebia
noutras noites por ela era
esmagado.....sufocado....
consumido...

que culpa seria essa?
revirava suas memórias
procurando por razões...

e o pior
as encontrava...
internalizava-as...

aquilo
ao invés de o impulsionar
o fazia entrevar

numa pequena dor diária
mas insistente e que
agora freqüentava diariamente
sua atordoada mente...

O Som do Silêncio

Ouvindo os sons da natureza
os primeiro humanos
os tentaram imitar

talvez tenha sido
o silêncio rompido
pela primeira vez...

aquele silêncio entediado
que vez ou outra era quebrado
nunca por eles,
mas pelos outros seres

o homem aprendeu o seu som
a reproduzi-lo,a apreciá-lo
as primeiras melodias
logo vieram
e música viraram

hoje o som nos rendeu
muitas vezes nem percebemos
nos acostumamos
e em forma de barulho
viramos seu refém

o silêncio se perdeu
difícil em um dia
um só momento
de silêncio

mas quando consigo
esse curto tempo
eu o aprecio, em verdade
dele preciso
necessito

um silêncio suave
que se consegue lento
e em seu auge
ouve-se só o som
do próprio peito...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Temos Tempo

Hoje comprei um relógio

Paguei caro por algo

que me aprisiona

e ainda informa

que ando sempre atrasado

agora vou vivendo

fustigado pelo tempo

cada segundo um açoite,

Sorte ainda ter amigos,

que novamente

me norteiam:

_ “Não aceite,

não se renda.

Continue correndo do mundo corrido”.




Gontijo/Figueira

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Desejos e Devaneios


Um amante da mente

que beira um demente.

Não na doença

e sim na loucura.


A mente do amante.

Inquieta e ofegante

Almeja que a mesma

Aumente e prospere,


e ainda prefere

o excesso a exceção

do exceto tem aversão.


és adversa

o seu inverso.


Em verso

sonha ser lúcida
cética e sensitiva,


e não apenas procurar sentido

no que deve ser sentido.

Mente

“...Antigamente
A antiga mente
na mente metia
o que mentia
e a mantinha uma
mentinha...”

...um grito a liberdade de expansão...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Entre o que fomos e seremos

passado e o futuro
são duas gaiolas
que o espírito aprisionam

A primeira de ferro
concreto e
imutável

A segunda de vento
abstrato e
infindável

e entre o fixo
e o infinito
a impossibilidade
e a multiplicidade

uma confusa mente
inventa seu presente

Confissão


... não espero ser recompensado


é como ir

contra o auditório

contraditório


ou


rir do encontro

com a solidão


é sofrer por antecipação

em vão


espero sim

um contra-golpe

um contra-ataque

um xeque-mate

se quiser me mate...


...mas não prometa

por mais fácil que pareça.